Em nossa vida é comum nos depararmos com pessoas que dizem ter medo de algo. Pode ser medo de uma pessoa, de um objeto, de um animal, inseto ou aracnídeo, ou ainda, de um lugar, e quem sabe mais o que pode levar um indivíduo a sentir medo.
“Há relação entre uma fobia específica e uma satisfação não atendida?”
O medo sentido pode gerar uma diversidade de reações, isto varia de pessoa para pessoa e não há como determinar qual será a reação até que possamos observar uma pessoa em crise. Em alguns indivíduos, tais reações ou sintomas, podem ser mais intensos enquanto em outros podem agir de forma mais leve e controlada.
Eu já pude observar pessoas que vomitaram, tiveram crises de tosse, que choraram de leve ou copiosamente. Algumas gritam, correm, ficam em silêncio e até se paralisam parcialmente ou completamente. Já presenciei pessoas levando a mão ao rosto ou cobrindo-se com uma peça de roupa ou coberta como forma de proteger-se da possível ameaça a sua sobrevivência, a qual está recalcada no inconsciente. Enfim, muitas são as possibilidades de reação a um trauma e seu afeto.
Muitos cidadãos, contudo, sentem sua vida comprometida quando a fobia passa a atrapalhar suas atividades diárias, seu desempenho profissional, custo de vida, saúde, ou qualquer outro aspecto de sua vida regular. Há indivíduos, que todavia, sofrem a partir das ações de terceiros, outros que sentem prazer, consideram engraçado e divertido provocar ou intimidar um fóbico pelo simples fato de arrancar umas gargalhadas. Tais terceiros apresentam um comportamento sádico, infelizmente, e não entendem que sua perversão não é nem um pouco engraçada ou divertida para quem sofre com a fobia. Para o fóbico é angustiante, porque não vexatório e doloroso.
Vou ilustrar a minha dúvida contando o caso da Nilda. Nilda é uma moça muito bonita e inteligente que adora leitura e muito mais:.
- Tem por profissão a docência em nível superior e a contabilidade.
- É uma voraz estudante de doutorado e mãe exemplar.
- Nilda hoje está com 39 anos de idade, é a filha mais velha entre quatro irmãos.
- A irmã é três anos mais nova, um irmão é 8 anos mais novo e o outro irmão é 10 anos mais novo.
- Convivem amistosamente e cordialmente, entre os irmãos, assim como, com o pai e com a mãe. Nilda é mãe do Paulo, um adolescente de 15 anos de idade.
E antes de continuar, quero compartilhar a minha dúvida, que é a seguinte: “- Há relação entre uma fobia específica e a satisfação de um desejo não atendido?” Essa pergunta não é retórica, mas sim, um ponto para discussão e análise.
Seguimos com a Nilda. Ela tem medo de grilo. Podem ser gafanhotos também ou qualquer coisa parecida. Podem ser verdinhos, pretinhos, marrons, grandes, pequenos, de pernas compridas ou não. Podem até estar mortos, para ela é um grilo e ponto. É apavorante! Recorri ao dicionário para descobrir qual é o nome que se dá a essa fobia e acredito que cabe a nomenclatura mais generalista que se chama: entomofobia, ou ainda, insectofobia ou insetofobia.
Os sintomas que ela apresenta, pelo simples fato, da possibilidade, de ter um grilo (ou similar) em seu caminho ou ambiente, ou ainda, se alguém falar que para ela que tem um inseto desses por perto, são agudos. Ela apresenta reações tais quais: grande repulsa que a inibe de entrar ou sair do ambiente para evitar o contato com o inseto; ansiedade quando fica próxima ou no fato de pensar a respeito; sensação de paralisação das pernas; e procura se proteger se trancando atrás de uma porta ou saindo correndo para lugares mais “seguros” à sua integridade. Ela foge mesmo! Em suas próprias palavras Nilda nos diz: “- Me dá um arrepio no corpo todo, me parece que tem centenas de grilos sob o meu corpo, são monstruosos. Ui!”
Ao perguntar diretamente a ela sobre a origem da entomofobia, contudo, conscientemente ela não tem uma reposta, ela diria que por aproximação seria: “- Eu não me lembro de ter sido assustada, apavorada quando criança. Eu me lembro que minha bisavó era muito medrosa no que se refere a insetos ou aracnídeos e também bastante escandalosa na presença deles. Como eu tinha grande admiração e forte ligação afetiva com a minha bisavó Jura, eu acho que poderia ser essa a origem da minha fobia por grilos.” Pensando na minha pergunta feita anteriormente, seria essa uma possível resposta? Acredito que, dado o vínculo afetivo entre bisneta e bisavó, poderia sim contribuir para o caso. Ainda assim acredito, que algo mais inconsciente poderia explicara insectofobia, esse medo dos grilos.
Em nossa convivência, a Nilda sempre demonstrou uma acentuada necessidade de atenção e reconhecimento por parte de seu pai e sua mãe. Conforme comentado anteriormente, ela é a filha mais velha e a partir do momento que os outros irmãos cresciam, ela passou a ser a “mocinha”, a mais velha, aquela que precisava cuidar dos mais novos. A Nilda assumiu seriamente, portanto, tal responsabilidade. Afinal, eram as ordens, regras e comandos que tinham origem das pessoas de maior referência moral para ela.
Ela conta que tudo de gratificante, a lindinha e a engraçadinha, fora dirigido e reforçado para a sua irmãzinha. Mais tarde, da mesma forma, tudo de gratificante, o perfeitinho e bonitinho, fora dirigido ao irmãozinho mais novo. O que sobrou para a Nilda foi a responsabilidade de ser a irmã mais velha, mesmo tendo, 4, 5 ou 6 anos de idade, e depois, 10, 11 ou 12 anos de idade no caso dos irmãos. Aqui cabe um parêntesis, entretanto, não faltava a Nilda amor e cuidado por parte dos pais, mas faltava sim alguma coisa que ainda hoje está inconsciente em sua psique.
Talvez, associado à relação com o medo de insetos de sua bisavó, a Nilda percebeu que quando se pronunciava o susto e o medo, a atenção se voltava para ela. E isso para aquela lacuna de atenção seria uma enorme recompensa positiva. Para ela, aquela satisfação, aquele prazer de ser protegida e ganhar a atenção dos pais, poderia assim, ser alcançada. Todos riam dela, achavam bonitinho, engraçadinho e bobinho o seu medo de algo tão inofensivo quanto um grilo. A lacuna de alguma forma, portanto, estaria preenchida e ela cessaria naqueles momentos de ser a responsável e passaria a ser a protegida, que teria alguém que cuidasse dela como os irmãos recebiam cuidados e atenção. Nilda seria reconhecida pelos pais afinal. Cabe aqui ressaltar que a fobia da Nilda se repete até os dias atuais. Poderíamos aqui dizer, também, que a Nilda apresenta um comportamento perverso masoquista, visto que sente prazer em sentir a fobia, pois a atenção se volta para ela.
Seria possível para a Nilda, como forma de concluir este relato, que ao perceber o quanto ela é amada, importante, valorizada, querida e reconhecida por seu filho, seu marido, seu pai, sua mãe, sua irmã e seu irmão que os sintomas de sua entomofobia diminuísse ou até fosse totalmente suprimido? Como forma de reflexão, estudo e discussão da psique humana, haveria uma relação entre uma fobia específica em qualquer indivíduo com uma satisfação de um desejo não atendido e assim reprimido no inconsciente?
Nooossa! Eu tenho uma fobia que me atrapalha muito e já me fez passar altas vergonhas. Meee! Preciso procurar psicanálise! Obrigado!
Eu também! Pareço um medroso, que vergonha!
Parece que é muito mais comum do que imaginamos! Mds!