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A história de um narcisista compulsivo.


Quanto mais conhecemos novas pessoas e criamos conexões com essas pessoas, mais conseguimos observar e aprender naquilo que diz respeito à dinâmica de funcionamento do comportamento do indivíduo e sua relação com o mundo externo.

“A negação da compulsão e a dinâmica de comportamento de um narcisista.”

Carlos Renato

Podemos aqui afirmar, portanto, que o mundo externo é o catalisador para os gatilhos que fazem com que o ego de ser vivente dispare seus mecanismos de defesa psíquica, com o propósito de administrar os conflitos de origem interna, demandados pelos desejos do Id, contra o moralismo imposto pelo Superego. O Ego, e seu papel de moderador, tem a responsabilidade de gerenciar os recursos psíquicos que cada indivíduo possui, e assim, permitir que sua interação com a sociedade seja a mais saudável possível.

A submissão aos desejos, àquilo que é libidinal, pode não ser aceita no contexto social em que o indivíduo se insere e tem seus valores morais estabelecidos. A edificação destes valores morais tem sua fundação moldada a partir do resultado de suas experiências no decorrer das fases do seu desenvolvimento psicossocial. A rigidez ou flexibilidade, imposta ou proposta, pelas bússolas morais de cada indivíduo refletirão em desejos reprimidos ou recalcados, que se não forem ressignificados em algum momento de sua vida, irão dificultar a sua relação com o mundo. Pode, todavia, incapacitar o sujeito, o sobrecarregando de angústias e estados ansiosos, cerceando suas capacidades de socialização, assim como, suas capacidades intelectuais.

Não suficiente, também, impacta na vida daqueles que convivem com o indivíduo psicologicamente afetado. Muitas vezes, tal indivíduo, tem um papel central em seu contexto social ou familiar ao representar um papel central como elemento de grande poder e influência sobre o grupo que convive. Poderia ser:

  • um líder.
  • um pai ou uma mãe.
  • Essa pessoa, portanto, impactará de forma positiva ou negativa a energia geral e o desenvolvimento equilibrado e saudável das relações existentes nos ambientes que os cercam.

Sabemos, desta forma, que são várias as neuroses, psicoses ou perversões que vêm a criar demandas psicanalíticas de tratamento. Neste contexto, porém, gostaria de me concentrar no Transtorno Obsessivo e Compulsivo, o TOC, com um toque de narcisismo na mistura.

O TOC se caracteriza pela ocorrência do pensamento, da ideia, da sensação ou do sentimento intrusivo que leva a pessoa ao aumento da ansiedade, quando se trata da obsessão. E, também, quando há um comportamento consciente, padronizado e recorrente que age como forma de alívio e traz uma sensação de redução da ansiedade, no caso da compulsão.

Já o narcisismo se manifesta quando um indivíduo, seja este, criança, adolescente ou adulto, tem atração libidinal por seu próprio eu. Vai além da autoestima. É uma admiração e um desejo por seu próprio corpo, por suas próprias ideias, por sua forma particular de pensar, seu intelecto, ou por seus valores sociais, econômicos e culturais. Para o indivíduo narcisista suas ações são superiores às ações realizadas pelos outros. Não estaria incorreto afirmar que uma pessoa com Transtorno de Personalidade Narcisista tende a ter uma visão de mundo egocêntrica, o que pode levá-los a ter dificuldades em reconhecer e aceitar as perspectivas e necessidades dos outros.

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Considero importante mencionar que uma pessoa com Transtorno de Personalidade Narcisista pode apresentar comportamento controlador, visto que, esse comportamento lhe permitirá se colocar em posição de poder e de superioridade sobre os outros. Desta forma, pode impor aos outros viventes o seu padrão único e muitas vezes inflexível.

O nosso personagem Hermes, todavia, gostaria de narrar uma situação que nesse caso envolve a Elga, uma pessoa de seu círculo social de relacionamento. Elga é uma mulher na casa dos 60 anos de idade, bem-educada, formada em curso superior (embora não atue em sua área de formação), boa aparência, muito asseada, casada, mãe e avó. Uma senhora de classe social, econômica e cultural abastada, por assim dizer.

Hermes nos conta, para que possamos ter uma pequena ideia dos valores morais que ela recebeu, que o pai de Elga costumava falar o seguinte: “- Para uma pessoa merecer aceitação e respeito ela precisa ter berço!” Sem fixar julgamentos, pois poucos sabemos e nada vivenciamos de suas experiências únicas da infância, nós podemos ter uma ideia do seu contexto de criação a partir de uma crença ou valor importante em seu seio familiar.

Segundo o Hermes, a Elga apresenta nas ações do seu dia a dia um interesse exagerado por limpeza e organização. Tudo é sujo, ou melhor, nada está suficientemente limpo para ela e qualquer coisa ou quase pode conter bactérias e trazer contaminação. Por isso, tudo precisa estar limpo, cheiroso e organizado. Vale frisar que, se alguma coisa não estiver de acordo com os padrões por ela exigidos, é motivo para uma mudança do estado de humor, estabelecendo assim, um ambiente pesado e hostil energeticamente que acaba por atingir a todos a sua volta.

Para exemplificar, o lugar de determinado vaso decorativo de flores dever ser no lugar exato dele, embora ninguém nunca saiba qual seja, exceto a Elga. E enquanto ela não for até o vaso e o colocar nas coordenadas geográficas exatas, ela não se sente confortável. O mesmo acontece quando uma porta de armário ou gaveta estiver aberta ou entreaberta. A Elga simplesmente tem que fechar, é inquietante para ela a porta se manter aberta, mesmo que seja somente uma fresta. O desconforto dela só passará quando ela se levantar e fechar completamente a porta ou a gaveta.

Falando em gaveta, os talheres precisam obedecer a ordem correta por tipo e em seguida por posição. Se apenas um talher, do compartimento de colherinhas de chá, estiver com uma gota de água ou uma pequena sujeira, é motivo para colocar todos os talheres para lavar. Caso outro alguém guarde os talheres e feche a gaveta, em algum momento ela não se conterá e irá abrir a gaveta para verificar a ordem e a posição dos talheres e possivelmente arrumar de acordo.

Antes de sair de casa, seja para trabalhar ou fazer compras, ir passear ou viajar, ir ao dentista ou ao cabeleireiro, não importa quantas vezes ao dia ela venha a sair de casa, as almofadas de todos os seis sofás precisam ser afofadas, realinhadas e organizadas em seus devidos lugares. Um outro exemplo, são as toalhas, as causadoras de discórdias. As toalhas a que o Hermes se refere, são as toalhas de banho que foram utilizadas na noite anterior, e que, devem, impreterivelmente serem colocadas para secar, sejam estendidas ao sol ou na secadora de roupas, de forma prioritária, como a primeira atividade do dia. Detalhe, tem que ser no persegue sol próprio para as toalhas. Sem comentar o fato de que, a Elga não pode dormir sem ter tomado banho imediatamente antes de deitar-se. Mesmo que ela tenha tomado um banho há uma hora, ela tomará outro banho imediatamente antes de ir se deitar.

Antes de sair de casa, seja para trabalhar ou fazer compras, ir passear ou viajar, ir ao dentista ou ao cabeleireiro, não importa quantas vezes ao dia ela venha a sair de casa, as almofadas de todos os seis sofás precisam ser afofadas, realinhadas e organizadas em seus devidos lugares. Um outro exemplo, são as toalhas, as causadoras de discórdias. As toalhas a que o Hermes se refere, são as toalhas de banho que foram utilizadas na noite anterior, e que, devem, impreterivelmente serem colocadas para secar, sejam estendidas ao sol ou na secadora de roupas, de forma prioritária, como a primeira atividade do dia. Detalhe, tem que ser no persegue sol próprio para as toalhas. Sem comentar o fato de que, a Elga não pode dormir sem ter tomado banho imediatamente antes de deitar-se. Mesmo que ela tenha tomado um banho há uma hora, ela tomará outro banho imediatamente antes de ir se deitar.

Tudo bem, a parte do TOC já foi possível observar. Mas, e a questão do narcisismo e do controle? “- Ah, sim!” Bem, esta parte começa pelo simples fato de que somente ela sabe arrumar e posicionar de forma satisfatória as coisas do jeito que eles devem ser. Não suficiente, a Elga tem uma frase muito frequente que ela usa em seus diálogos, em tom de superioridade, e que diz assim: “- Você está fazendo tudo errado!” Ela ainda tem mais uma frase nos mesmos moldes: “- Você nunca vai dar conta de nada!”

Mais algumas situações. Ela se casou e não sabia nada de nada, pois ninguém nunca a ensinou. Aprendeu a cozinhar sozinha, a limpar sozinha, a cuidar dos filhos sozinha, pois nunca teve a ajuda de ninguém. A Elga cuidou muito bem dos filhos dela até o momento em que ela pode sair para trabalhar, assim que todos estavam crescidos. Suas filhas e filho são quase perfeitos, pois o que coube a parte dela foi muito bem executado. São educados, asseados e estudados, pois segundo ela, a educação que ela deu aos filhos foi e ainda é a correta. O filho mais novo tem 38 anos. Faz um julgamento cheio de críticas exageradas às suas filhas, pois segundo a Elga, elas não sabem educar os filhos delas e: “- Estão fazendo tudo errado!”. Para uma de suas filhas, Elga não hesitava em deixar claro que a filha não daria conta de cuidar de uma casa, de ter um marido e filhos.

O marido de Elga sofre, pois é um imprestável que não sabe fazer nada direito e que se não fosse por ela, ele seria um fracassado como o resto da família dele. A família dela, seus ascendentes e contemporâneos, esses sim, são ótimos. Sempre que acontece algo, digamos, problemático ou que teria potencial para se tornar um problema, é porque o que ela disse para fazer não foi feito e por isso deu problema. Ninguém dirige o carro como ela. Imagine a Elga no papel de copiloto?

Para finalizar, ou as coisas acontecem em conformidade com a zona de controle de Elga, ou um clima pesado se estabelece no ambiente. Se ela está bem, o ambiente fica leve e harmonioso. Porém, como sempre há algo fora de conformidade e que esteja velado e pronto para ser descoberto, haverá a possibilidade de uma mudança negativa na carga de energia do ambiente. Nestes casos, quando algo não está no quase intangível padrão de qualidade exigido por Elga, uma gota d’água se transforma em um mar em ressaca com facilidade.

Esta história que o Hermes nos trouxe, mostra que a Elga, possivelmente, poderia fazer bom uso de sessões de psicanálise para ajudá-la com seus transtornos libidinais. Para Elga, contudo, fazer terapia é inaceitável e ela jamais colocará os pés em um consultório de uma analista. Segundo ela, suas capacidades de resolver seus “problemas da cabeça” são mais que suficientes, o que eu concordo. Porém, uma ajuda profissional poderia trazer ótimos resultados na tratativa dos sintomas neuróticos. Elga diz que não precisa da ajuda de ninguém e que tudo que ela faz é normal. Diz assim: “- Eu sei que eu sou chata, mas eu sou assim!”

A descrição colocada nesta narrativa, portanto, seria de uma pessoa com Transtorno Obsessivo Compulsivo somado a um Transtorno de Personalidade Narcisista? Com as informações aqui colocadas, talvez, seria possível estabelecer tal diagnóstico preliminar. Porém, muito mais precisaria ser abordado dentro da psique da Elga. Estaria Elga negando seus sintomas obsessivos e compulsivos por causa de sua dinâmica de comportamento narcisista?

O Hermes e a Elga tem um ótimo relacionamento. Ela tem inúmeras qualidades e ótimos valores morais. O que foi destacado aqui foram apenas os comportamentos relacionados ao TOC e ao comportamento narcisista para fins didáticos.

Carlos Renato


Neuropsicanalista

  1. Gente eu convivo com alguém assim. A vontade de rir é grande mas a de chorar é maior! Aff!

    1. Você sabe que a minha mãe é assim. Acho que já nos acostumamos demais com isso, bem que ela poderia procurar ajuda. Vou tentar!

      1. Eu sou assim. Já estou fazendo terapia! Preciso melhorar sofro muito! :´\